terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Na velha cozinha, um fogão sombrio


Na velha cozinha, um fogão sombrio engolia de sofreguidão faminta, toda a lenha seca que lhe ofereciam. Nas bocas flamejantes, panelas a fumegar e um aroma a feijão cozido e toucinho a encher a casa toda. A um canto, uma velha sentada num banquito baixo de madeira, a descascar ou debulhar qualquer coisa que não me recordo, mas devia ser para meter dentro de uma das panelas. O gato, visto que todos os gatos são arreganhados no inverno, enroscado no calor mesmo em frente do fogão, a estorvar de tropeços nos pés das pessoas.
Aos domingos, uma selha de zinco no mesmo sítio onde o gato a estorvar agora, num improviso da casa de banho que não havia e, onde água a ferver e outra tanta de fria, uma mão a entrar e a sair da mesma em arriscadas manobras de temperos até a achar boa. De maneira que, sabonete lux a fazer arder os olhos e orelhas a precisarem esfregadas porque a pergunta :"já esfregaste atrás das orelhas?"  a impor-se. E lá em baixo, na Benfeita, o sino da igreja matriz a tocar Avés-Marias a espaços de tempo cada vez mais curtos, a lembrar a pressa da missa e a urgência do caminho, todo ele a descer, dificílimo... Porque sapatos de Domingo de sola lisa a escorregarem na caruma e isso a atormentar a ideia de se poder vir a sujar a melhor roupa!

Cleo

Sem comentários:

Enviar um comentário