quinta-feira, 21 de maio de 2020

Era raro porque costumava


Era raro porque costumava remediar-se numa gamelazita pequena que tinha, poisada no degrau do pátio. Dizia que até gostava mais de esfregar assim a roupa nas mãos... Mas, de vez em quando, lá ía ela lavar uns trapitos ao lavadouro. Uma blusa e um colete(soutiã) ou uma saia e um lenço da cabeça, com uma lasca de sabão azul e branco, tão seca e dura como os cornos de uma qualquer ovelha das que habitavam no curral da Lídia, mesmo em frente do tanque. E na pedra da soleira deste, havia quase sempre alguém sentado a conversar com quem por ali estivesse, abandonando o carrego num poiso jeitoso, para que o alívio das costas moídas... E nisto, a dona das ovelhas a chegar, encostada a uma sachola, com um saco de erva à cabeça e também ela a queixar-se de uma dor ruim nos "rinses" que a não largava por modo nenhum e a obrigava a manquejar. Mas que se havia de fazer? Se era tempo de regas e o gírio da Poça da Fonte já a contar, com tanta calhada de milho cheiinho de sede! De maneira que, de vez em quando, alguém a discutir ao pé da poça ou mesmo no caminho da levada, tudo por causa da água que era quase sempre pouca e a seca muita. De modo que, havia zangas que duravam anos e outras até, que foram levadas para a sepultura... 

Cleo