terça-feira, 6 de junho de 2023



Do outro lado do tempo, há rostos que não se apagam a viverem em sítios nossos, que, para nós, permanecem intocáveis.

Se fecharmos os olhos, conseguimos vê-los a sorrirem-nos enquanto por eles passamos ao sabor das imagens que nos vão surgindo da cassete onde os guardámos. Porque presos a memórais a inundarem-nos os lugares onde sempre estavam, de momentos imortais a segurarem-se ao tempo que conseguimos manter em suspenso, como este que agora me aflora ao pensamento. E de repente, ali está ela, sentada naquela soleira, a ajeitar o lenço que lhe descaíra da cabeça, enquanto descansa do molho de mato que ali a trouxera...

Apalpa a travessa que lhe segura o carrapito e penteia os cabelos da frente que se esgueiraram antes de voltar a pôr o lenço como deve ser.

São instantes imorríveis, a vaguearem ao sabor do pensamento e revividos vezes e vezes sem conta. Mas que, por precaução e para que continuem vivos enquanto nós também vivermos, o melhor é deitá-los ao papel em palavras antes que o tempo resolva apagá-los...


Cleo 


Foto - Duas irmãs(algures ali entre a segunda metade dos anos 40 e a primeira dos anos 50), uma delas com o seu bebé ao colo (chamava-se Vítor - já falecido também), num tempo muito anterior ao das minhas lembranças, mas cuja soleira da porta a servir de palco a ambos os instantes, tanto o da foto como o que descrevi no texto. 🙃😍




 

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