quinta-feira, 6 de abril de 2023



Se fechar os olhos por momentos consigo voltar lá. E volto áquele tempo em que o tempo ainda não contava para nada que fosse mais importante do que a hora em que davam os desenhos animados na televisão que era e foi a preto e branco e que por aquelas alturas estava em cima da cómoda do quarto deles e que eu costumava ver sentada aos pés da cama. Isto por causa de ser curta de vista e não conseguir ler as legendas sem ser ao perto e que estava sempre a ouvir que era um vício...
E lá está a minha mãe na "casa de lá" (assim se chamava porque embora fosse de paredes meias com a de cá, em tempos nem porta por dentro tinha e era preciso ir pelo lado de fora o que era uma chatice se calhasse estar a chover e a ser preciso ir à adega encher a garrafita do vinho pró almoço ou a ter de passar pelo pátio para se entrar na parte de cima. De maneira que, já muito mais tarde, o quarto da minha avó a deixar de existir e ali se fazer a lareira e, claro, se terem mudado para lá os sofás da sala) em dia de se cozer a broa, a peneirar a farinha de milho com a tampa da arca aberta, numa rapidez de solavancos curtos, para lá e para cá, enquanto uma chuva de farinha a cair no castanho da  gamela de amassar a broa. E nesse tempo o forno já construído no lugar onde antes tinha sido a retrete e da qual ainda me lembro tão bem porque numa dor de barriga a ter de me sentar naquele assustador buraco redondo ao qual se retirava uma rodela de madeira que o cobria de dignidade.


 

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