Tudo servia para enfeitar o ramo de loureiro que a missa deste dia pedia, visto ser o tão aguardado Domingo de Ramos. De maneira que, à falta de outras coisas, hipoteticamente mais vistosas, que se supunha existirem noutros lados mas que ali não tínhamos, deitava-se a mão ao que havia. E o que havia eram camélias, rubras ou cor-de-rosa, que se prendiam aos galhos do ramo com um pedacito de fio das chouriças, que se encondia no meio das folhas. Umas serpentinas coloridas que sobravam do carnaval, enroladas em toda a volta e umas tangerinas(que tínhamos com fartura), penduradas aqui e ali, a abanarem para cá e para lá, conforme os solavancos que se davam no caminho, pinhal abaixo, entre tropeços de raízes e escorregadelas de solas lisas na caruma ou nas folhas apodrecidas dos castanheiros. Chegados ao adro da igreja da Benfeita, os olhos a brilharem num misto de alegria e orgulho pelo ramo que se exibia. Cada um de nós e todos os outros que já lá estavam, mais os que ainda chegavam de todas as outras terras da freguesia. Uma exaltação de alegria que se não conseguia explicar, cada um aprumando o melhor que podia, o seu ramo!... E havia ainda, dois ou três, que, movidos pela extravagância de dar ainda mais nas vistas, carregavam um loureiro inteiro até à porta da igreja, não se atrevendo no entanto, a passar da soleira da porta da igreja...
Cleo
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