sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Por vezes, temos urgência de qualquer coisa


Por vezes, temos urgência de qualquer coisa que nem sabemos bem o quê...! Algo sentimental que nos leva a viajar para dentro de nós mesmos, procurando em cada rua, em cada esquina das memórias, nos resquícios da existência queimada pelo tempo. Evocando lugares e pessoas que nos acordam sentimentos adormecidos e nos permitem reviver instantes impossíveis de descrever. Porque só nós os vemos como vemos e como os queremos ver. Os outros não os enxergam e mesmo que enxergassem não quereriam saber. É uma coisa muito particular. Intima. Nossa! E torna-mo-nos tão felizes ao tropeçar em pequenos nadas que nos surgem de repente, sem o esperarmos. Momentos cheios de ternura que ficaram gravados, e que, nos é permitido reviver de novo, enchendo-nos a alma de uma indizível felicidade. E pode ser só um gesto, uma expressão, uma lembrança de uma qualquer frase dita num determinado contexto e sítio específico. Um sorriso ou a lembrança de um mero afago de mão, num momento frágil (lembro-me do conforto do sentir, das mãos da minha mãe a apertarem-me os pés gelados até os aquecer). Ou um gesto carinhoso de dar uma folha de couve a comer a uma ovelha ou cabrita e ficar ali a vê-la a deliciar-se a roê-la. Ou o prazer que me dava o ver do esgravatar das galinhas, esfuziantes de contentamento, quando as soltava da capoeira por um pedacito de tempo, ao entardecer das tardes de verão. Pode ser tanta coisa simples a emergir da escuridão do nosso subconsciente, no meio desta complexidade toda de sermos singulares, simples e mortais humanos. 

Cleo

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