terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Queres ir aos pássaros?


Queres ir aos pássaros? - perguntava-me o meu amigo Carlos, todo contente, de fisga em punho. E eu, que pouco maior era do que os pássaros, respondia-lhe sempre que não (nem sei porque insistia!) - Olha que esta é nova... - retorquiu ele daquela vez, elevando o objecto à altura dos meus olhos míopes, para que me certificasse como devia de ser, daquilo que me dizia. De facto, aquele Y feito de um galho de oliveira, tinha cara de ter sido descascado de fresco; mais o bocado de câmara de ar com aquele reforço encarnado ao meio, davam-me ares de serem novinhos em folha e eram bem capazes de acertar nalguma asa de melro menos atento que por ali andasse à cata de lagartas nas couves. Deixa lá os passarinhos em paz - disse-lhe eu, numa tentativa vã de o fazer mudar de ideias. De maneira que, lá seguiu saltando o muro do quintal do "policia", todo contente de fisga na mão e assobio na boca, a entoar uma moda qualquer que agora me não recordo qual. Na volta, trazia os olhos no chão, as mãos enterradas nos bolsos e a fisga dependurada no de trás. Do assobio, nem um pio...
Está visto que o jantar não foi de melro nem de pardal. Foi frango guisado que é bem bom. Soube-o no dia seguinte, por acaso, quando a minha mãe se encontrou com a sua no lavadouro e falaram daquilo que tinham feito para a ceia do dia anterior. Conversas de mulheres feitas de ocasião, quando a ocasião se proporciona. O que foi o caso!


Cleo

Sem comentários:

Enviar um comentário