terça-feira, 5 de março de 2019

O Ti Américo não ganhou para o susto





O Ti Américo não ganhou para o susto, quando, naquela manhã se dirigiu ao galinheiro por via de abrir a porta às criaturas que já se aborreciam de tanta noite no poleiro. Ao empurrar a porta do páteo deu logo de caras, não só com um, mas com mais de trinta homens por ali enroscados pelo chão fora conforme podiam. Ao que parece, foi o único remédio que tiveram em virtude de terem chegado já noite dentro e ninguém ter sido avisado. Quem eram afinal aqueles homens de farda verde que ali se tinham aquartelado de emergência no páteo do meu vizinho e lhe pregaram um susto de morte, ainda mal o dia tinha rompido? Contaram que os haviam para ali mandado do quartel do Regimento de Engenharia de Espinho e que iriam rasgar uma estrada nova que haveria de ligar o Pai das Donas ao Sardal, qual sonho antigo há muito desejado pelas gentes das duas terras. Naquele ano de 1981 não mais houve parança na aldeia... Eu fui logo promovida a lavadeira! Nem me importava com a trabalheira que me davam tantos lençóis encardidos de nós nas pontas, cuja cor parda eu consegui o milagre de transformar em branco. Era um vai-vém de carros da tropa de um lado para o outro, os magalas rua acima e rua abaixo, as máquinas numa ronqueira danada por aqueles pinhais fora e as raparigas da terra mais contentes que em dias de festa. Quase todas as noites se faziam bailes, lembrando outros tempos de que os mais antigos falavam dando conta de dois à mesma hora, um no oiteiro e outro na fonte fundeira

Cleo

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