O ti Viola, em certa ocasião, comprou uma mula nova. Coisa não muito habitual por aquelas bandas mas também nada do outro mundo; até porque, quando se ía ao outro mundo, que, para mim, era a movimentada vila de Arganil em dias de feira, também por lá se viam algumas bestas iguais aquela e de outras espécies até... Mas o Ti Viola, sempre teve animais desta monta, visto que, era comerciante de especiarias, tripas de bois, facas corticeiras, cestos de verga e outras coisas mais. De maneira que, precisava de um meio de transporte que o levasse de feira em feira. Bem, isto antes de ter comprado uma carripana e ter contratado um choufer na Benfeita, onde, aliás, também ficava a dita, numa garagem à entrada da povoação, por se acabar ali a estrada. De maneira que, a mula era quem o trazia ladeira acima, nos restantes três quilómetros que faltavam até à nossa terra, ao cimo do outeiro, onde também morava.
Ora, voltando ao episódio que vos quero contar, tinha então o Ti Viola acabado de chegar montado na sua mula vindo lá da sua vida, apeando-se ali mesmo à porta da oficina do meu pai com quem se entreteve a dar dois dedos de conversa, não sem antes ter prendido (assim só por uma questão de impôr o respeito) o animal a um atrelado que ali estava encostado à parede e que nos servia para ir buscar uma lenha ou carregar as aparas e a serradura da oficina quando era preciso. Andava o bicho entretido a petiscar umas ervas que ali tinham nascido por entre as frestas das pedras(antes de ali haver alcatão, claro), quando, numa tentativa de chegar a uma mais viçosa que lhe acenava mais adiante, lá deu um puxão na corda que o segurava ao atrelado(por precaução) e eis que o dito cujo que era todo de ferro se manda para o chão, a correr que nem um desalmado atrás da mula que entretanto e com o susto, se largou a correr que nem uma perdida pela rua abaixo. Ora, a rua, para além de enladeirada ainda fazia uma curva mesmo em frente da casa da prima Alzira, cuja janela da adega ficou toda arrombada por causa do atrelado que embirrou nela. Valeu-lhe o nó que tinha afinal sido bem dado, caso contrário... da mula, nem sinal!
Cleo
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