Paisagem a roçar o surreal onde as quelhadas(socalcos) com os seus muros altos(dado a inclinação do terreno), se ligam entre si através de escadas improvisadas, em alguns casos não passando de pedras suspensas nos próprios muros. Hoje tudo isto se encontra ao abandono, mas em tempos idos eram belos retalhos verdes onde o milho era o que predominava, pois era dele que se tirava o pão do homem (broa) bem como o dos animais (palha). Aos de hoje, com tudo o que têm, ser-lhes-à difícil acreditarem em certas coisas pelas quais passaram muitos dos seus antepassados. Pensarão que tudo não passa de histórias... mas não! Acontece que a vida era bem difícil por estas bandas. Fizesse sol, chovesse ou nevasse, era da terra que dependia a vida de famílias onde as bocas eram mais do que muitas e o estado social ainda não tinha sido inventado. Lembro-me de haver pobres que calcorreavam os caminhos das cabras, de aldeia em aldeia, à procura de quem lhes desse uma côdea de broa ou alguma peça de roupa de algum defunto que se tivesse finado, que sempre haveriam de ser melhores do que aqueles trapos que traziam vestidos. Botas, se aparecessem, também não se recusavam, embora os pés já estivessem acostumados a andar descalços. Depois vieram as reformas, dadas por Marcelo Caetano e deixou de haver pobres. Até quando? Fica a pergunta no ar, pois parece-me que estamos a entrar num novo ciclo(a história da humanidade está cheia deles) e nada nos garante que estas terras não voltem a ter gente a cuidar delas. Estiveram de pousio tantos anos que o milho haveria de voltar a ser o ouro em grão da Serra do Açôr.
Cleo
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