Chegou a hora de ir buscar os ovos que há meses se andavam a juntar e repousam no escuro da arca, enterrados no milho - dizem que é por ser mais fresco. Meia dúzia será pouco para um tacho pequeno. Mais um ou dois, a olho, não serão demais e a tigelada fica mais amarelinha... uma colher se sopa de açúcar por cada um e um litro de leite mais a pitadinha de sal, são tudo o que é preciso para mais tarde nos deliciar.
A rês que o "piriscas" matou, temperada de véspera com os alhos, o louro, o colorau, a pimenta, o sal e o vinho tinto, deu para encher duas caçoilas das grandes. E a massa da broa amassada na gamela, graças ao crescente da semana passada, já está quase lêveda.
Deitou-se já o lume ao forno com duas pinhas e foi-se-lhe atirando uns gravetos para atear o lume. Ao lado, o monte das ganhotas secas aguardava a vez. Ao cabo de uma hora a incandescência das brasas anuncia a prontidão do forno para os receber a todos. Arredou-se então o braseiro e abriu-se caminho às caçoilas da chanfana que foram logo as primeiras. Foi-se tendendo a broa na escudela e, uma a uma, a pá de rabo comprido as foi arrumando com minúcias de calceteiro, lado a lado, mesmo ao meio. As esmagadas de sardinha e de presunto, mais próximo da porta (hão-de ser as primeiras a tirar já cozidinhas) e por último os tachos da tigelada, do outro lado.
Agora é só esperar e ir sentindo o cheiro que se espalha em redor... São capazes de imaginar?
Cleo
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