quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Morreste-me sem me avisares


Morreste-me sem me avisares. Desconfio até, que nem tu própria o soubeste. Se não, terias-me dito alguma coisa dado que ainda de vésperas tinhamos estado a falar ao telefone. E tu que me dizias sempre tudo, desta vez nem um sinal, nem uma queixa do que quer que fosse. Estavas contente ainda do rescaldo do nosso encontro na semana anterior em que te fomos buscar e te levámos para almoçar fora ao que se seguiu um passeio pelos lugares que tão bem conhecias. Viste rostos familiares e gente amiga que te veio cumprimentar. Até comeste um gelado daqueles que te faziam mal à barriga, mas como era um dia diferente, que importância poderia isso ter, perante o prazer que te deu. Ainda tivemos tempo de comprar um coscorel quentinho, acabadinho de fritar, que até os olhos se te riram de o ver a passar no açúcar com a canela. No ar, ficou a promessa de te levar a casa quando houvesse mais vagar, para poderes ver as tuas coisas com tempo e matares as saudades de tudo como devia ser. Mas antes, ainda haverias de fazer anos e, mais uma vez, te prometemos que te iríamos buscar para passares o dia connosco. Desta vez, com o resto da família que neste dia não foi. Mais, até serias tu a pagar o almoço. Promessas são promessas e são para cumprir...! E assim, com um punhado de promessas a aconchegarem-te a alma, ao final da tarde, voltámos a levar-te ao lar e despedimo-nos como sempre, longe de saber que era afinal a última vez que nos veríamos e aquele abraço, o derradeiro. Ainda que não saibas, todos os dias te vejo, no lugar que me deixaste vazio.

Cleo

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