domingo, 1 de março de 2020

Chovia... uma chuva miudinha que parecia saída do crivo



Chovia... uma chuva miudinha que parecia saída do crivo de um regador antigo, daqueles de zinco baço, igual aquele outro, em que a pequena Leonor, que tinha tanto de teimosa como de traquina, se cortou no lábio de cima ao escorregar no meio de uma correria desenfreada, que terminou abruptamente com um corte profundo que lhe ficou marcado para a vida. Teria uns três ou quatro anitos e não se lembra de nada, mas a marca está lá, a comprovar a história que a mãe se apressava a contar, sempre que lhe perguntavam o que tinha acontecido ao lábio riscado de branco.
Chovia... uma chuvinha miúda que o sol tentava evaporar com os seus raios quentes, mas que mais não conseguia do que lhe dar um brilho luminoso fazendo com que um enorme arco de várias cores, se atravessasse no céu, cortando-o em duas metades, como se faz a uma laranja sumarenta.
Chovia... e a pequena Leonor, agora mais crescidinha, mas ainda com toda aquela energia e teimosia, olhava-o deslumbrada do lado de dentro da pequena janela da sua casa. De repente, uma vontade enorme de o atravessar de um lado ao outro, começou a nascer-lhe lá de dentro do seu querer.
Não aguentou mais e saiu porta fora, correndo o mais que podia até o alcançar.
Só que... e o que ela não sabia, é que o arco-íris não se pode atravessar!
Leonor voltou triste. Trazia no olhar e nas mãos vazias a vontade amarrotada, e nos passos lentos, a alma desolada.
No meio de tanta desolação, Leonor nem reparou, mas o sol havia entornado as cores do arco íris, derramando-as no chão sob a forma de pequenas flores, que eram agora um tapete multicolor onde as borboletas esvoaçavam felizes.
E já não chovia...



Cleo

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