Se ficar muito quietinha, consigo ouvir as vozes dos que por aqui passavam na labuta diária da vida. E lá vem a Ti Esmeralda, com uma cesta de estrume miúdo das galinhas à cabeça. Diz que vai semear as abóboras e elas gostam de um mimo assim, porque a crescerem mais depressa, mais viçosas e lusidias... A minha mãe a relatar as doenças e as dores por entre as favas e as ervilhas a precisarem de ser sachadas... A Ti Miquelina que chega com um molho de erva às costas, porque o gado ainda sem almoço... O marido, com a espinha dobrada para a frente, a ceifar o cômbaro da levada perto da poça... O Ti Zé Ramos das Luadas, de máquina de sulfatar às costas, a dirigir-se para o bordo da mesma poça porque mais uma máquina de sulfato p'ra fazer... Mais adiante, a prima Laurinda a esparrar um corrimão de videiras farfalhudas e os cachos a precisarem de sol... O Ti Elísio a aguçar uma roçadoira na pedra cravada na parede do palheiro... O meu pai a chegar com uma sachola ao ombro, porque está na altura de assentar os feijões da quelhada do limoeiro e a água em dia de ser nossa. E dali a nada quase noite e tantas outras coisas ainda para serem feitas!
Cleo
Sem comentários:
Enviar um comentário