A minha mãe a fazer o almoço num fogãozito a gás de dois bicos, pousado em cima da pedra mármore junto do outro a lenha, que se acendia mais à noite porque à noite havia mais vagar. E daí a pouco os carapaus já fritos e o arroz de tomate quase cozido, a encherem o ar de aroma e a abrirem o apetite. Umas alfaces das do alfobre, tenrinhas mas ruins de arranjar, porque a serem precisas muitas em virtude de terem poucas folhas ainda. E a minha mãe a ocupar-se da tarefa e a dizer que era uma chatice para arranjar aquilo...
"Vai ali ao cimo da escada chamar o pai para vir comer", dizia-me ela enquanto temperava a salada e eu a ir à escada chamá-lo e daí a nada ele a subir a escada e a minha irmã, que era pequena ainda, a correr para debaixo da mesa à pressa, mais uma vez, como fazia todos os dias para se esconder dele... E ele a fingir que não sabia onde ela estava e a dizer alto"onde é que estará a Margarida?". E a minha irmã toda contente porque na sua inocência, muito bem escondida! E ele a continuar a fingir que não a descobria até que, já com a sopa meia comida, a espreitar para debaixo da mesa e ela lá e a fazer uma festa!...
Cleo
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