quinta-feira, 16 de março de 2023


Dava-se o caso de, naquele ano a minha amiga e colega de escola me ter convidado para ir à festa da terra dela, que seria por ali, algures pelo mês de Agosto, como o são quase todas as festas das aldeias das redondezas, da nossa bela Serra do Açôr.
Ora, dava-se o caso de não poder ir sozinha, visto que nem camioneta da carreira, nem boleia nenhuma a partir da minha terra e para aquelas bandas. De modo que, o convite foi mesmo para todos. Ou seja, eu mais a minha irmã encostadas a um dos lados da carroçaria e a minha mãe ao outro para contrabalançar, não fosse o desgraçado guinar para um dos lados e espetar-se contra a valeta. Ou ainda, pior do que isso, entornar-se por ali abaixo do lado das barreiras!
De maneira que, o meu pai firme e hirto, agarrado ao guiador do triciclo, qual cavaleiro convicto à sela do animal.
Nas ladeiras, o bicho queixava-se tanto que ele resolveu levar-nos à formiga... ora eu e a minha irmã, ora a minha mãe sozinha.
Chegados lá, seriam umas dez da manhã e a missa ainda por começar. Havia ainda a procissão pelas ruas intermináveis, com a banda da Aldeia das Dez a marcar o compasso e, só após a missa acabar, a venda das ofertas que nesse ano seriam mais de meia dúzia. Tudo isso ali no meio do largo junto a um chafariz, leiloando e oferecendo de novo para voltar ao leilão, várias vezes, fazendo render o artigo até mais não. Meio dia e o leilão ao rubro ainda... A minha irmã, criança ainda, a queixar-se de um rato no estomago e o meu pai, sem ter levado bolacha nenhuma na algibeira, a ter de lhe ir comprar um pacote de batatas fritas à taberna que por lá estava aberta naquele dia de festa...
Chegada, finalmente, a hora do almoço, seriam para aí umas boas três horas da tarde e a primeira coisa a chegar à mesa para acalmar a galga, foi uma travessa de feijão encarnado com toucinho cozido pois então, querem lá coisa melhor para matar a fome?! Pois bem, o mestre da música não se armou em esquisito e era vê-lo a comer com satisfação o petisco que ali tinha á mão. Seguiu-se o cozido como deve ser, com tudo a que se tem direito, até chouriça de tripa cagueira e morcela de arroz. E só depois disso tudo é que apareceu a chanfana! Mas essa, a sobrar quase toda...
Vieram ainda travessas de arroz doce e tachos de tigelada, como em qualquer mesa que se preze em dia de festa, de uma casa nas aldeias da Serra do Açôr.
Foto do blog "O Açôr", tirada nos anos 50 na aldeia da minha colega e amiga de então, Sorgaçosa. 😜


 

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