quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

São fugazes as memórias que pairam sob as ruínas do tempo



São fugazes as memórias que pairam sob as ruínas do tempo... Um rosto de velha do qual já me não lembra as feições, que se assoma à janela. Urbana era o seu nome. Um monte de gatos de vários tamanhos e cores, a miarem ao seu redor. A loucura do filho Amado, que o sumiço levou de madrugada. Um outro que vivia em Lisboa, o Celestino (essa terra grande e mágica que eu tanto ouvia falar, mas que nunca lá tinha ido apesar de lá ter nascido) que certa vez lhe encheu a casa, onde crianças bem vestidas a trote pelas escadas acima e abaixo, numa correria desenfreada de alguns dias de visita. Talvez tenha sido a única vez que ali entrei, porque me chamaram para lanchar e onde vi e provei, também pela primeira vez, compal de pêssego... Depois veio o silêncio e a solidão que lhe haveria de trazer a morte. Não muito tempo depois, outra vez gente e crianças e barulho e gritos e martelos e rádio a tocar e desassossego constante... Hoje, apenas o silêncio, o imperioso e implacável silêncio a morar dentro e fora destas pedras cansadas, cuja mudez guarda estórias que ninguém irá alguma vez saber. E quem se interessaria? Tudo se apagará com a memória de quem delas ainda se poderá lembrar. Tudo morre um dia!

 Cleo

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