quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Uma malga de vinho no bordo da fogueira



Uma malga de vinho no bordo da fogueira que crepitava o pinho dos galhos verdes, aguardava o aferventamento do caldo entre promessas de calor à alma... do corpo inteiro.
Na panela de três pernas, borbulhava o caldo das couves onde um pedaço de toucinho se abandonava em aferventadas investidas vaporosas. Ao lado, na trempe, a frigideira (a minha avó chamava-lhe pele) onde fervilhavam já, no azeite, duas sardinhas ao sabor do lume brando das brasas. As nossas sombras, enormes, tremeluziam no frontal de madeira que nos separava do resto da casa. O cheiro e o fumo espalhavam-se pelas outras divisões, subindo até ao forro, onde antes se entranhava em duas ou três varas de chouriças e uma manada de castanhas dentro de um cesto pendurado, dissipando-se, por fim, por entre as frestas das lajes frias. Lá fora, o frio cortante da impiedosa geada, que, desde o lusco-fusco, a convidar-nos à demora no aconchego da pilheira. As gargalhadas e as estórias dos lobos e das bruxas, bastavam-nos para uma mão cheia de indizível felicidade.
Ao outro dia, talvez tudo se repetisse de igual forma, à excepção do caldo que em vez de ser de couves aferventadas, era bem capaz de ser de castanhas piladas ou de almece fervido com farinha de milho...


Cleo

Sem comentários:

Enviar um comentário