Foram por um atalho, visto que a camioneta, essa, não passava da Benfeita e partia às sete horas da manhã, em ponto. Até lá, ainda um bom pedaço a palmilhar o carreiro. Além disso, o bilhete também custava dinheiro, daquele que pouco havia e para não dar em perna quebrada por causa de um qualquer contratempo, o melhor seria deitar os pés ao caminho. De maneira que, de casa até à "lomba", pelo carreiro acima, era um salto, como se costumava dizer. Não o era, porque o mesmo a subir a pique, de modo que, impossível de saltar... O pior era depois, a interminável estrada de terra batida que atravessava a serra toda até ao cimo da Esculca e ainda faltava passar pelo Alqueve e pelo Mosteiro. Depois, Folques ali logo ao virar da curva, mesmo quase, quase, lá ao pé...
Deveria ser Verão, porque a poeira a entrar-lhe pelo picotado dos sapatos de fivela ao lado, a tingir-lhe de castanho as meias brancas de sair. Mas isso era o menos. O pior eram os pés a queixarem-se dos tornozelos e os tornozelos a fingirem que não era nada com eles. Mas tenho cá p'ra mim, que a culpa seria mesmo dos sapatos, porque os pés um bocadinho desconfortáveis apesar dos sapatos maiores do que os pés mas com um tufozito de papel macio na biqueira, por causa de durarem mais tempo, visto os pés sempre a crescerem e os sapatos na mesma...
Já havia amanhecido entrementes, mas o caminho ainda a meio e as horas da consulta a chegarem-se. Era preciso apressar o passo, visto que o especialista que vinha de Coimbra, não costuma esperar por ninguém. "Pai, ainda falta muito?" - Pergunta a pequena já fatigada. "Não. Não vês que já andamos a maior parte? Daqui até lá é um salto!" - Responde-lhe o pai, tentando apaziguar-lhe o desânimo. Caminhavam já no asfalto, mas, ainda assim, muito longe do destino que os ali levava.
Cleo
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