quinta-feira, 7 de março de 2019

De volta ao meu mundo secreto



De volta ao meu mundo secreto onde as memórias se misturam com as imagens de agora, vou rabiscando desenhos de palavras com o que me vai aflorando ao pensamento. E escrevo como se a minha vida dependesse disso. Se fosse poeta, diria que escrevo com a alma em chamas. Porque o faço inspirada em modelos vivos que fazem ou fizeram, em alguma época, parte da minha existência. De maneira que,tenho esta mania de me voltar para o passado e tentar arrancar lá do fundo os pedaços que se me colaram às paredes do meu poço das lembranças. Coisas sem importância pensarão alguns, mas cheias de significado para mim. Ainda mais por saber que mais ninguém se importará com elas e se não forem resgatadas a tempo, acabarão por se desfazer no esquecimento, como tantas outras das quais já não resta nem um simples vislumbre. Apagaram-se como uma lâmpada que se funde! Hoje rabisquei um quadro a carvão, onde um rapaz descalço corre pela rua abaixo, feliz, atrás de um pneu de bicicleta segurando-o com uma gancheta de arame grosso. O rapaz não sabe que é a estrela do meu desenho, nem nunca o virá a saber visto que não viveu o tempo suficiente para que lhe pudesse contar. Mas lá vai ele, feliz por ser apenas uma criança presa num corpo de um quase adulto onde nunca se reconheceu. E continua a correr, livre, atrás do pneu de gancheta em punho. Sempre que lá vou, encontro-o por ali a assobiar... Não é que o veja realmente, mas sinto-o e quase que lhe consigo tocar no espírito, apenas com a força do meu pensamento.

Cleo

Sem comentários:

Enviar um comentário