quinta-feira, 7 de março de 2019
Tinha na curva dos anos
Tinha na curva dos anos uma espondilite incorporada que a obrigava a caminhar de nariz rasteiro ao chão, impedindo-a assim de contemplar o céu e tudo o resto que existia acima do horizonte rastejante ao qual os seus olhos estavam confinados. Limitando-se unicamente às raízes e às pedras do caminho por onde caminhava sempre sem ver ninguém. Ainda que, a dois passos de si, alguém consigo se cruzasse. Se lhe falassem, respondia prontamente com o cumprimento do costume: um "bom dia" ou uma "boa tarde" logo seguido da pergunta que se impunha: "quem está aí?" Se fosse alguém conhecido, ainda fazia um esforço doloroso e erguia-se o mais que podia numa tentativa vã de encontrar o rosto de quem do alto lhe falava, se não fosse, poupava-se ao esforço desnecessário e seguia adiante. A capucha pela cabeça, aparava-lhe a chuva e o vento que no Inverno a não impediam dos cuidados que tinha. Do sol de Verão, sentia-lhe o calor que lhe queimava a pele dos braços cansados até onde chegavam as mangas arregaçadas e, a luminosidade espelhada no alcatrão da estrada, que, por vezes, também tomava. E lá seguia a caminho da vida que lhe fugia...
Cleo
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