quarta-feira, 18 de setembro de 2019

E varria o sobrado com a sua vassoura de giestas




E varria o sobrado, com a sua vassoura de giestas trazidas da cumeada, visto não possuir mais nenhuma em virtude de o dinheiro da venda da lã das ovelhas não dar para muito mais e os cobertores, serem, afinal, muito mais precisos do que uma vassoura chique de piassaba. As tábuas carunchosas também não mereciam mais... Na pilheira, uma panela de três pernas fumegava vapores de caldo cujo aroma, inesquecível, se espalhava pelo resto da casa. Na trava do tecto, um cesto de verga escondia o quarteirão das sardinhas secas, que, a par de um bacalhauzito miúdo, costumavam durar um mês inteiro. "Reza Florindo"(havia certas regras mesmo na casa dos pobres) - dizia o pai para um deles que devido ao cansaço por aquela hora, fingia que rezava de olhos fechados. Mas, ainda assim, não deixava de se desculpar ao mesmo tempo que arranhava na cabeça - "Meu pai, os piolhos não querem estar calados"!!! Eram sete à mesa e a malga das batatas era apenas uma. Cozidas com a pele, para poupar nos desperdícios, está claro. Não se costumava falar muito na hora da refeição, pois já dizia o ditado:"ovelha que berra é bocada que perde".

 Cleo

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