quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Debruçada no peitoril


Debruçada no peitoril
Da janela do tempo
Observo o horizonte
Que se estende à minha frente
Fecho os olhos por instantes
E observo o eterno ontem...

Revisito-me nos lugares distantes
Que me vivem na memória
Intocáveis e serenos
Tal como os deixei

O milheiral verde
Onde tanto labutei
Até ao limite das minhas forças
Que
Por tenras serem
Eram poucas...

Das tantas sementeiras
Batatas serôdias
Feijões mochos
E dos que subiam até ao céu...

Os olivais dispersos
Onde azeitonas geladas
A doerem-me nos dedos
Os corrimões das videiras
Ao fundo das quelhadas

O quintal dos mimos
O pomar sombrio
A adega e o alambique
No culminar da vindima

A eira das malhas do trigo
As casas das debulhas do milho
À luz do candeeiro no alto da trave
Os currais
O cheiro do estrume
A fumegar...

A casa da minha avó
O bordo da fogueira
Onde me sentava e me aquecia
Enquanto comia o caldo das couves
E ouvia histórias antigas
De homens e lobos
Na lonjura dos montes
Eram histórias simples
De meias verdades
De meias fantasias
Mas que tanto me encantavam

Esgravatando na memória
Encontro tantos tesouros
Está tudo lá
Inalterável
Como se o tempo não existisse...

Cleo

Sem comentários:

Enviar um comentário