Os cabazes e cestas já há uns dias que estavam a postos. As tesouras, facas e navalhas bem afiadas aguardavam ao lado destes, o nascer do dia. Mal o sol rompia as pessoas íam chegando de todos os lados para ajudar à vindima na vinha da D. Olinda. Aquela encosta do Vale do Sandinho sempre fora soalheira e em boa hora o seu defunto marido ali havia mandado plantar videiras de boas castas que lhe garantiam o vinho de superior qualidade, daquele de fazer estalos na boca.
Em pouco tempo os cabazes se íam enchendo de uvas gordas e docinhas. Brancas para uns e pretas para outros, porque no fim, vinho branco e vinho tinto, para agradar a todos conforme as ocasiões... Cabía-nos a nós que éramos mais novos e cheios de força, carregar com eles à cabeça ou aos ombros, conforme desse mais jeito, lá desde o fundo da vinha por aquelas escadaria acima até à estrada, que depois já era um caminho melhor até à loja da casa, de maneira que, mais gente a ajudar.
A esmagadeira, empoleirada no tanque de pedra, aguardava com impaciências de um ano só. Por via de tanta mão de obra, ao fim da manhã estava tudo despachado. Entretanto, um aroma a guizado a chegar ao nariz anunciando a jardineira do almoço. Uma mesa cheia de gente e alegria, onde, para além da jardineira, também as filhós únicas da prima Olinda, como ninguém mais fazia!... E o arroz doce com fartura, eram as deliciosas recompensas pelo trabalho oferecido de bom grado. Ah, se havia coisa de que eu gostava, era mesmo do dia da vindima da vinha da D. Olinda!
Cleo
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