quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Antigamente, o largo era o centro do mundo!


Antigamente, o largo era o centro do mundo! Do mundo que me rodeava e onde se passava quase tudo o que fosse importante! As pessoas que se ali juntavam por causa da carreira das Quintas, porque nesse dia o pretexto da feira de Arganil. E, já se sabe, há sempre coisas a fazerem falta. De maneira que, um molho de couves ou de cebolo, uns pitos, uns chicharros ou umas sardinhas e uma peça de pano para mandar fazer uma blusa ou uma saia... A carreira a chegar e as pessoas em sentido a assistirem às manobras complicadas do motorista para lhe dar a volta, mesmo já com o muro da quelhada do primo Zé, só por metade, porque assim a carreira a chegar-se mais à frente e a facilitar a manobra. No tempo em que não tinha, ainda, muito mais que fazer, gostava de ir até lá, porque mesmo em frente ao sino da capela, uma escadaria que me parecia enorme, com um corrimão que eu gostava de montar e me deixar escorregar por ali abaixo. Voltava a subir e vir no escorrega um monte de vezes até me cansar. Lembro-me de alguém me ter emprestado uma bola que saltava bem e com ela inventar um jogo de arremessoas à parede dessa escadaria, sem a deixar cair ao chão, porque se isso acontecesse, perdia... Á noitinha era o sítio onde mais gente se cruzava. Uns porque vinham de um lado, outros porque vinham do outro e aqueles que, não vindo de lado nenhum, mas porque ouviam a falaça, ali se chegavam para ajudar à festa. E também a própria da festa que era ali que se fazia. Um palco de madeira com umas tábuas pregadas e uns ramos de castanheiro a enfeitar e estava pronto para os tocadores que abrilhantavam o arraial. Mas antes, a aparelhagem com o sonoro a entornar música das cassetes, em altos berros, que se ouvia na Benfeita e até nos Pardieiros. Os rapazes nas suas bicicletas, a organizarem corridas que incluíam uma subida até ao Oiteiro. Davam balanço na pequena descida à casa do primo Antonino até à da prima Lucinda e dali para cima era sempre a pedalar com força. O pior era a curva logo a seguir ao tanque de lavar. Perdiam balanço e muitas vezes não conseguiam passar da casa do Urbano... No natal, era ali que também se fazia "a trugada". Um monte de cepas que se íam buscar ao pinhal, a fazerem um braseiro incandescente para aquecer quem dali se abeirasse para o convívio da tradição. E aquilo dava até ao Ano Novo! Gente que chegava de Lisboa, a sairem dos automóveis e a virem cumprimentar os do ano todo que por ali estivessem. Outros a irem já de regresso e a despedirem-se dos mesmos do ano todo, com promessas de que voltariam para o ano... Tudo isto e muito mais se passava ali, no largo da capela, o centro do mundo!

 Cleo

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