sábado, 1 de fevereiro de 2020

Hoje, sem se saber porquê,


Hoje, sem se saber porquê, vieram-me à ideia aquelas tabletes da Regina(não da Regina mesmo, porque ainda não conhecia nessa época nenhuma Regina, só muito mais tarde e essa Regina ao pé da gente na pensão da R. Heliodoro Salgado por via de ter de tratar dos papéis dela no departamento da emigração porque lá no Canadá a exigirem-lhos, e sem qualquer chocolate dela... Mas do nome da marca que traziam escrito na prata:"Regina")de chocolate fininhos com recheio branco por dentro, a saberem a frutas e que, de vez em quando me apareciam na mão, em resultado de um furo no cartão a prometer doces desejos em cima do balcão da mercearia, ou oferecidos por alguém a sorrir e a recomendar: "toma lá, mas divide ao meio com a tua irmã"! De modo que, para uma justa divisão, ía-se buscar o metro de esticar e encolher que o meu pai usava para fazer as medições dos centímetros nas tábuas e que riscava aqui e ali com o coto de lápis que retirava da orelha, antes de as serrar pelo risco com precisão,no disco da máquina barulhenta. De maneira que, encostava-se o metro ao chocolatezito, fazendo com a unha uma marca na moleza da prata, naquele ponto que era, com a apurada exactidão dos risquinhos negros no amarelo do metro, o meio por onde se deveria cortar com a faca. Ou, na falta dela e não se podendo deixar de comer tal guloseima, partia-se mesmo com a mão deixando o recheio todo à vista, o que aumentava a quantidade de saliva na boca e, logo a seguir, a chatice dos dedos muito mais pegajosos!... 

 Cleo

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