sábado, 1 de fevereiro de 2020
Parece que ainda a estou a ver...
Parece que ainda a estou a ver... Em frente ao balcão que dava para a cozinha, sentada num banquito de madeira baixo, quase rente ao chão, mesmo de frente para forno de cozer a broa, no cantito entre o telheiro e o cimento que antes fora uma quintã. A minha avó, a afiar a faca já gasta no meio de tanto a afiar, no bordo do alguidar de alumínio, antes de começar a descascar as batatas para a mistura da sopa ou para acompanhar as sardinhas fritas da ceia. Ou até mesmo, as couves das galinhas que ficavam tão finas como se fossem para o caldo verde. Depois, o resto do tempo, passava-o a varrer com um pente de dentes finos, não os piolhos de outros tempos, mas a caspa que lhe estorvava no casco da cabeça e lhe provocava comichão... Daí a um pedaço, um entrançado de fios esbranquiçados, enrolados e presos num toutiço com meia dúzia de ganchos ao alto da cabeça. Depois, o triângulo negro do lenço compunha o resto. Guardava no bolso do avental o pente e esperava que a noite chegasse e a levasse de volta à cama, onde estendia os ossos perros em virtude do peso dos anos.
Cleo
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